Sábado, 5 de Maio de 2012

# 23

demoro 1h menos cagagésimos (em média) para chegar à cona do costume. mas hoje, depois de esbarrar numa quantidade arbitrária de formas específicas (dois bares, um cisco de 1.76 de altura e cabelos pintados à trigo chamado Fátima, etc), ainda há pela frente uns 250 metros, metade dos quais a subir. do outro lado da rua um bando de tadinhos estão a bater fotos uns dos outros. duas gajas afastam-se do cardume, descem por um filtro de entranhas e coágulos até o ponto do auto-carro. fecho os olhos por um instante. foi sempre assim. vejo os outros eichmanneanamente; quero dizer, como a oportunidade que tenho de estabelecer as condições para mandá-los para mais longe, por mais longe que estiverem. numa forma muito menos geral de oposição, enquanto caminho, me distraio a pensar que a Fernanda Câncio é uma espécie de apeadeiro do mal, ou uma merda que da cintura para baixo funciona em estado de calamidade, o tipo de gaja que percebe sempre só metade da piada e que, invariavelmente, ostenta uma tiara de opiniões prontas sobre a cabeça. meto a mão ao bolso da jaqueta e ouço-me dizer: “não te enchourices, pá!”. a aleatoriedade das merdas não tem pontos fracos. atravesso a rua. à esquerda, o nosso reflexo num pedaço de vitrina: Lisboa e eu. à direita outra cena patética, da qual obrigo-me a participar. dois gajos a empurrar uma camioneta cona acima. primeiro o motor engasga, vibroleia, é um golfo com 100 achaques asmáticos fundidos no espanto. não há azul dos olhos que resista. tusso, cuspo, esfrego. o gajo ao lado é gordo. está bué vermelho. acho que as tripas dele vão pular da barriga a qualquer momento. somos dois cavaleiros ao invés de quatro. tudo bem. não faz mal. na tentativa de particionar ainda mais o país com outros regionalismos, menciono a tristeza da camisola que ele veste. ele sorri. tanto quanto eu, não percebe nada do que digo. faço um bocadinho mais de força. ok. os gajos agradecem, sobem na camioneta, dobram à direita e somem. volto a pensar na Fernanda Câncio. fico a perguntar-me: que conselho darias àquela puta, ó peor? não sei, acho que diria: faz falta meteres o renato teixeira e o carlos vidal a andarem ali armados em rodriguinhos sinceros assim como construir meia dúzia de quilômetros de argumentos para os afastar. e seja qual for a opinião que este gesto nos mereça, não é preciso debitar vínculos num mundo politicamente largado ao improviso. até porque a jacobinice entre os socialistas costuma supor que a existência prática de um gajo se desenvolve a partir da busca por uma lei que seja válida para todos e que a privacidade de qualquer um é só o exemplo fortuito de uma generalidade, ou como quem diz raison d'etat. bato à porta. uma. duas. oito vezes. a minha foda não está. conto os euros. desço as escadas. é só isto. não vou extraviá-los com “estados secundários”. no táxi o ringtone do black sabbath toca. não atendo. o motorista quer saber como é que fui parar ali. finjo que estou a escrever uma sms. ele fala de Lisboa. aponta pela janela: “vai encontrar tudo aqui!”. é a ocasião de parecer convencido, de concordar. faço que “sim” com a cabeça. ele continua a falar. de uma coisa eu tinha certeza, pouco a pouco ele estava me dando sono. mas não vamos por aqui derivado ao excesso de opções ao nosso dispor de o mandar para o caralho. em casa, depois de um charro e dois hambúrgueres, despejei na retrete um punhado de maispeorzinhos ainda em girino. o mais notável é que fiz isto com discrição, o que pode levar a crer que não era indispensável.

O mais peor às 16:02
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De Anónimo a 6 de Maio de 2012 às 16:06
Não posso deixar passar a oportunidade de dizer que há inúmeras questões de enorme importância às quais te esquivas.


De O mais peor a 6 de Maio de 2012 às 16:24
como o qué? a derrota do Sporting?


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