dirigi por 40 minutos. não é fácil dar as costas a 1 grama de heroína. é como estar dentro de um barril a vencer as cataratas do niágara, ou qualquer merda assim. aquela golden gate pela qual um gajo tem acesso ao resto da humanidade dá mesmo a impressão de ser muito frágil. abro caminho com o carro no meio de um grupo de asiáticos. sou o Leão da montanha, mas ninguém liga um caralho. isto é o mais perto que consigo chegar na descrição dessa cadeia de acontecimentos. já hoje pela manhã, enquanto me barbeava, consolei-me com a idéia de que não é preciso exaurir o papel que modestamente tenho representado. fiquei nu por 20 minutos antes de descer para almoçar. lembro a intensa falta de interesse com que escutei a minha mãe falar do fedor das minhas meias enquanto, ao mesmo tempo, o meu irmão desfiava a tese de que o principal interesse da china é evitar a reunificação da coréia. depois de esforçar-me para engolir o que tinha posto no prato, voltei ao quarto. quinze minutos a flutuar na água morna da banheira foram suficientes para tatear as raízes de diversos problemas. mas a verdade é que não percebo onde isto começou. posso repassar mil vezes a limpo o mês de maio sem jamais compreendê-lo. visto a mesma roupa, e vou até a cozinha pegar um café. o meu sobrinho disse que ontem bebi 17 canecas de café preto. pergunto o que mais ele andou a contar. ele ri e diz que o número de vezes que alguém faz uma determinada coisa é um modo perpendicular de comunicação. “perpendicular a que?”, eu pergunto. “a comunicação directa”, ele responde. “ok. e o que eu estou a dizer perpendicularmente com as 17 canecas de café?” ele não sabe. nem eu.